quinta-feira, 15 de abril de 2010



MAIS UMA DO JOSÉ MORAIS

No pas­sado dia 4 de Outu­bro, a Árvo­res de Por­tu­gal foi con­tac­tada por um mora­dor da Aldeia das Aço­teias, Olhos d’Água, Albu­feira, o senhor Antó­nio Mes­quita. O motivo do seu con­tacto era a sua indig­na­ção perante a poda drás­tica de dois plá­ta­nos (Pla­ta­nus ori­en­ta­lis L. var. ace­ri­fo­lia Aiton) do alde­a­mento, levada a cabo pelos jar­di­nei­ros da Asso­ci­a­ção de Pro­pri­e­tá­rios da Aldeia das Açoteias.

Uma das árvo­res estava irre­me­di­a­vel­mente per­dida, dada a rola­gem levada a cabo, a qual ampu­tou todos os ramos e boa parte do tronco. Des­fi­gu­rada, per­deu qual­quer seme­lhança com uma árvore, assemelhando-se mais a um totem gro­tesco, colo­cado quase à entrada deste alde­a­mento his­tó­rico para a cidade de Albu­feira.

A outra árvore, mais perto da pis­cina, tam­bém sofreu cor­tes drás­ti­cos mas foi salva in extre­mis pelo Senhor Eng.º Rómulo da Silva, tam­bém mora­dor neste espaço, que impe­diu que a acção fosse con­su­mada. Feliz­mente, a res­pec­tiva for­ma­ção em Agro­no­mia dá-lhe a auto­ri­dade sufi­ci­ente para que a sua opi­nião téc­nica seja levada em conta.

Depois de várias dife­ren­ças de opi­nião entre estes mora­do­res e a Asso­ci­a­ção de Pro­pri­e­tá­rios, o senhor Antó­nio Mes­quita, para além de colo­car infor­ma­ção reti­rada da inter­net sobre as podas acon­se­lha­das para esta espé­cie, con­tac­tou vários blo­gues e enti­da­des rela­ci­o­na­das com as árvo­res e o ambi­ente, entre eles A Som­bra Verde, da res­pon­sa­bi­li­dade do Pedro San­tos. Foi deste modo que ficá­mos a saber desta triste situ­a­ção, tendo-me então des­lo­cado ao local.

Impres­si­o­nante!

Que­rendo obter dife­ren­tes opi­niões come­cei por falar com mem­bros da Direc­ção da Asso­ci­a­ção de Pro­pri­e­tá­rios. Na ausên­cia do senhor Pre­si­dente (que ocupa este cargo há ape­nas alguns meses), falei com a senhora Vice-Presidente que, muito ama­vel­mente, me escla­re­ceu alguns pon­tos. Assim, confirma-se que a inter­ven­ção nas árvo­res foi orde­nada pela direc­ção da Asso­ci­a­ção, sendo exe­cu­tada pelos jar­di­nei­ros desta ins­ti­tui­ção que, usu­al­mente, fazem a manu­ten­ção do espaço.

A jus­ti­fi­ca­ção avan­çada foi, para o caso do plá­tano maior e que foi mais mal tra­tado, o facto de os seus ramos esta­rem incli­na­dos por cima de uma vivenda e a rama­gem, apa­ren­te­mente, estar “muito pesada”. Rela­ti­va­mente ao plá­tano da pis­cina, o que inco­moda são as folhas que inin­ter­rup­ta­mente caem na água e ento­pem os fil­tros. Apa­ren­te­mente, está pre­vista a con­ti­nu­a­ção das inter­ven­ções neste último plá­tano (cuja poda foi opor­tu­na­mente inter­rom­pida) e em outras árvo­res ao redor. Estão tam­bém pla­ne­a­das algu­mas inter­ven­ções nas rama­gens de vários pinheiros.

Dada a recep­ti­vi­dade da senhora Vice-Presidente, apro­vei­tei para dei­xar a suges­tão de que, no futuro e para pró­xi­mas acções deste tipo, recor­ram à opi­nião de peri­tos em arbo­ri­cul­tura, em vez de seguir o exem­plo que se vê pelas ruas dos muni­cí­pios portugueses.

Segundo os mora­do­res acima refe­ri­dos, foram ainda avan­ça­das outras jus­ti­fi­ca­ções para cor­tar mais árvo­res, incluindo um pinheiro, com a jus­ti­fi­ca­ção de que a caruma entope um alge­roz. Segundo a sua opi­nião, vários mora­do­res se mos­tra­ram revol­ta­dos com esta acção, facto que con­fir­mei pes­so­al­mente em con­versa com algu­mas pes­soas resi­den­tes neste que é o mais antigo alde­a­mento turís­tico do concelho.

Este é um alde­a­mento cujos pre­ços supe­ram lar­ga­mente os pra­ti­ca­dos no resto do con­ce­lho. Uma vez que se trata de cons­tru­ção antiga, resta infe­rir que este facto se deve às con­di­ções pri­vi­le­gi­a­das de arbo­ri­za­ção que pos­sui, quer ofe­re­cida pelos res­tos do pinhal ori­gi­nal, quer pelas árvo­res entre­tanto plan­ta­das ao longo dos anos. Des­truindo esta mais-valia, qual é o atrac­tivo espe­cial que res­tará na famosa Aldeia das Açoteias?

A apre­ci­a­ção que faze­mos deste caso é sim­ples: uma vez mais são as árvo­res as res­pon­sá­veis por todos os nos­sos pro­ble­mas. Assim sendo, devem ser elas e sem­pre elas a pagar o preço do nosso con­forto e como­dismo ou da falta de von­tade de encon­trar solu­ções (aliás suge­ri­das por alguns mora­do­res). Afir­ma­mos ape­nas que nos parece, no mínimo, sim­plista a solu­ção encon­trada.
Coloca-se ainda a seguinte ques­tão: porquê, depois de tan­tos anos e várias inter­ven­ções notó­rias nes­tas duas árvo­res, só agora foi impres­cin­dí­vel uma acção tão drás­tica e des­trui­dora? Não se deverá esque­cer que uma inter­ven­ção como esta fra­gi­liza gra­ve­mente a estru­tura da árvore e dos ramos que vie­rem a cres­cer, pondo em risco pes­soas e bens. Parece, assim, tra­çada a triste sina deste majes­toso ser vivo que, ainda há pouco tempo, pro­te­gia os seus vizi­nhos do escal­dante sol do Algarve. Cul­pada de os seus ramos cres­ce­rem e as suas folhas caí­rem, foi suma­ri­a­mente jul­gada e con­de­nada à avil­ta­ção e a uma morte prematura.

Por outro lado, defen­de­mos que, caso se pro­vasse que não havia outra solu­ção viá­vel, seria sem­pre pre­fe­rí­vel o corte da árvore, em vez do triste espec­tá­culo de a ver trans­for­mada num mons­tro. Acresce ainda a futura inse­gu­rança de quan­tos esti­ve­rem sob os seus futu­ros frá­geis ramos. Rea­fir­ma­mos, con­tudo, a nossa con­vic­ção de que não deverá ser feita qual­quer outra inter­ven­ção nes­tes exem­pla­res, sem a opi­nião de um téc­nico cre­den­ci­ado em arbo­ri­cul­tura, não nos refe­rindo com isto aos jar­di­nei­ros e téc­ni­cos cama­rá­rios que espa­lham esta contra-cultura por todo o país.

Cha­ma­mos a aten­ção para esta situ­a­ção, da mesma forma como pode­ría­mos fazê-lo para uma miríade de casos seme­lhan­tes que gras­sam pelo país fora, para dar um exem­plo daquilo que não deve ser feito e que nos pro­po­mos aju­dar a evi­tar no futuro, ten­tando sem­pre agir de forma peda­gó­gica e cons­tru­tiva (sem­pre que não seja pos­sí­vel uma acção pre­ven­tiva), e não ape­nas crítica.

Esta­mos ainda a aguar­dar o con­tacto do senhor Pre­si­dente, para que possa escla­re­cer alguns pon­tos ou ape­nas dar a sua opi­nião sobre este assunto. De qual­quer forma, convidamo-lo, como a todas as pes­soas, a comen­tar este artigo e, se for o caso, a acres­cen­tar as infor­ma­ções que achar úteis. Da mesma forma, colocamo-nos à dis­po­si­ção da Asso­ci­a­ção de Pro­pri­e­tá­rios da Aldeia das Aço­teias para aquilo que neces­si­tar, den­tro das nos­sas pos­si­bi­li­da­des e no que refere às árvo­res do espaço que está incum­bida de gerir.

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